Johan Cruyff: O símbolo de algo maior.

Camisa 14
4 min readJul 20, 2021

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Que Johan Cruyff foi um gênio e um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, todos sabemos. Não vou escrever sobre sua magia e conquistas dentro das quatro linhas, para tal existem pessoas mais qualificadas do que eu. Aqui vou me limitar a falar (ou tentar) sobre a pessoa Johan Cruyff.

Como vimos no primeiro capítulo dessa minissérie, Johan Cruyff é fruto da revolução social dos anos 1960 na Holanda. Quando o país deixou para trás de vez o conservadorismo repressivo e se tornou um modelo de liberdade individual, transgressão e ousadia.

(Fonte: Reddit).

Apesar de ser um símbolo para a juventude holandesa que tomou as ruas, Cruyff estava bem longe de compactuar com o anarquismo praticado pelo movimento Provos. No centro de seus ideais, estavam temas como os valores familiares, algo inimaginável para o grupo. No entanto, ambos compartilhavam a atitude anárquica, a inconveniência e a provocação ao establishment. Em um de seus episódios mais famosos, em 1974 ele se recusou a vestir a clássica camisa da Laranja Mecânica com as três listras pretas da Adidas, afirmando que só usaria uma com duas listras por conta de seu contrato com a Puma. Sobre Cruyff, o jornalista holandês Hubert Smeets afirmou: “Ele fez esse país depois da guerra. Acho que ele foi o único que entende os anos 1960”.

Johan Cruyff foi um contestador por natureza nascido para quebrar paradigmas e verdade há muito estabelecidas. Cruyff significa tanto para o futebol atualmente, pois entendeu como poucos a essência do jogo.

Nasceu e cresceu em Betondorp, bairro da periferia, na região leste de Amsterdã. Era habitado, em sua maioria, por proletários, enquanto as ruas eram dominadas por pequenas lojas.

Desde de cedo, espelhado em seus pais, um comerciante e uma dona de casa, aprendeu a dar valor ao trabalho que sustentava a família. Investia seu tempo livre no esporte, primeiro no beisebol e posteriormente no futebol. Sempre estava com uma bola nos pés, seja jogando com amigos na rua ou praticando com o muro de sua casa. Morava a poucos minutos do De Meer, antiga casa do Ajax.

(Fonte: Pinterest).

Cruyff logo passou a ser observado por olheiros Ajacied, que vasculhavam jogadores pelas minas de ouro que eram as ruas da capital holandesa. Aos 10 anos ganhou o primeiro par de chuteiras, e logo passou a integrar as categorias de base do clube.

Dois anos mais tarde, o pai de Johan, Hermanus Cornelis, faleceu aos 44 anos de idade, vitimado por um ataque cardíaco. O Ajax tratou de acolher a família. A mãe foi contratada pelo clube e tornou-se empregada doméstica do técnico da equipe principal, Vic Buckingham. Desse momento em diante, Cruyff passou ainda mais tempo nas dependências do Ajax, trabalhando na loja de artigos esportivos do time. Recebeu passe livre para as outras áreas do clube, almoçando com os treinadores e acompanhava a mãe na arrumação do vestiário.

Na escola, foi um aluno medíocre, estava muito mais interessado no futebol. Isso, em um colégio protestante, lhe rendia castigos, como escrever cem vezes a frase: “Futebol é para os pobres de espírito. Crer em Deus é a única verdade, o único esporte autêntico e profundo”. Alguns anos mais tarde, Johan jogaria por terra essa afirmação. Como pouco absorveu na escola, deu valor às coisas que aprendia por si mesmo, algo muito apreciado por seu pai também.

Pouco antes de chegar ao time principal do clube, conheceu seu grande mentor, Jany Van der Veen, então treinador das divisões de base do Ajax. Ele descobriu uma forma de lidar com o gênio do garoto, aprendendo a controlar essa personalidade que clamava por liberdade e anarquia. Sob os cuidados de Van der Veen, Cruyff se firmou nas categorias de base, sendo alçado ao profissional logo após completar 16 anos.

A estreia pelo time principal ocorreu mais de um ano e meio depois, em 15 de novembro de 1964. Marcou o único gol da derrota para o GVAV. Na partida seguinte, contra o rival PSV Eindhoven, anotou um dos tentos da goleada por 5 a 0. Dessa forma se iniciava a década que dedicaria ao Ajax, a gênese de um personagem tão complexo e fundamental para a história do futebol.

(Fonte: Lance!)

“É melhor perder com as suas ideias do que com as ideias de outras pessoas” — Johan Cruyff.

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Camisa 14

Tentando enxergar o futebol para além do campo. Estudante de geografia.